O primeiro grito de independência 243y21
Eleito pela maioria dos bolsonaristas, filiado a um partido do Centrão, o Republicanos, o novo presidente da Câmara, Hugo Motta (PB), endureceu, ontem, a sua postura autônoma com o Governo. Pressionado pelos colegas que querem a liberação imediata das emendas e rejeitam o jogo do governo pela aprovação de medidas de aumento de receita, foi curto e duro.
“Não estou no cargo para servir a projeto político de ninguém”, disse, em referência ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O deputado criticou as novas propostas articuladas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para compensar a revogação parcial do decreto que aumentou o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Leia maisDentre as medidas, o Executivo quer taxar investimentos hoje isentos, como a LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e a LCI (Letra de Crédito Imobiliário). “Apresentar ao setor produtivo qualquer solução que venha trazer aumento de impostos sem o governo apresentar o mínimo de dever de casa do ponto de vista do corte de gastos não será bem aceito pelo setor produtivo nem pelo Congresso”, reiterou.
Suas declarações se deram no evento Brasília Summit, do Lide. O congressista acrescentou que as medidas fiscais “deverão ter uma reação muito ruim”, “não só dentro do Congresso, mas também no empresariado”. A MP que aumenta impostos para compensar o novo decreto do IOF saiu no Diário Oficial de ontem. O governo Lula elevou o tributo em maio com a expectativa de injetar R$ 19 bilhões nas contas públicas em 2025.
A equipe econômica aceitou amenizar as determinações depois de pressões econômicas e políticas. Os recursos diminuirão a receita extra para aproximadamente R$ 6 bilhões em 2025 e R$ 12 bilhões em 2026. Depois, o governo precisou apresentar as alternativas. Até o momento, incluem-se só aumentos de outros impostos. Não foi discutido corte de gastos.
COBRANÇA DE EMENDAS – Após cantar de galo, o presidente da Câmara dos Deputados ligou para a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, para reclamar da demora no pagamento das emendas impositivas, que tem execução obrigatória. Segundo informações do portal G1, Motta disse à ministra que o governo terá dificuldades em aprovar qualquer medida que chegue à Câmara. Entre elas, as que foram apresentadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a congressistas no domingo ado para aumentar a arrecadação.

Ferro: nem João nem Raquel – Em entrevista ao Frente a Frente de ontem, o ex-deputado federal Fernando Ferro, candidato a presidente do diretório estadual do PT, cobrou das principais lideranças do partido no Estado uma postura de independência em relação aos Governos Raquel e João Campos, defendendo candidatura própria a governador nas eleições de 2026. “Temos que deixar de ser a sublegenda do PSB”, disse, referindo-se ao socialista. Sobre o grupo de João Paulo, que defende apoio à reeleição da governadora, afirmou que, igualmente, não atende aos interesses do petismo.
Deputado topa disputar – Na mesma entrevista, Fernando Ferro defendeu o nome da senadora Teresa Leitão como uma das alternativas para disputar o Governo do Estado em faixa própria. Ressaltou que se ela não se disp, o partido tem que buscar outros nomes, como a vereadora Liana Cirne. “Se ninguém se disp, eu topo entrar. Só não podemos mais ficar refém do PSB. O PT perdeu muito espaço no Estado. Só temos hoje um deputado federal. Chegou a hora de aumentar a nossa bancada e construir uma candidatura com DNA vermelho, que possa representar e defender os interesses do Governo Lula no Estado”, afirmou.
Moleque e molecagem – O deputado Carlos Jordy (PL-RJ) chamou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de “moleque” durante audiência pública conjunta das comissões de Finanças e Tributação e de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados. Pouco antes, Haddad disse que Jordy e o colega Nikolas Ferreira (PL-MG) fizeram uma “molecagem” por terem feito uma série de questionamentos e se retirado da sala da comissão antes de ouvirem sua resposta. “Eu tenho tido ânimo de debater, mas com os bolsonaristas eu não consigo debater. Eu não consigo debater. Desde 2018 o Bolsonaro fugiu de todos os debates. Agora aparecem aí dois deputados, fazem as perguntas e correm do debate”, disse o ministro.

Distensão que pode sair cara – De agem, ontem, por Brasília, o deputado estadual Alberto Feitosa (PL) fez uma visita ao ex-presidente Bolsonaro, que um dia antes havia prestado um longo depoimento sobre o processo que responde por tentativa de golpe de estado. A brincadeira de mau gosto de Bolsonaro, ao convidar o ministro Alexandre de Moraes, do STF, para ser o seu vice na chapa em 2026, teria sido um tiro no pé, segundo juristas. Mas Feitosa disse que Bolsonaro não teve intenção de ferir Moraes de ira. “Ele quis apenas distensionar o ambiente”, afirmou.
CURTAS
PAZ 1 – Antes do bate-boca com um deputado bolsonarista na Câmara, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que foi ao Congresso em “missão de paz”. O líder da equipe econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que quer decidir com os congressistas quais serão as medidas para cortar gastos.
PAZ 2 – “Eu vim aqui em missão de paz para a gente evoluir no debate, dar transparência para os números, discutir os temas. Quando a gente fala em reduzir um pouco o benefício de título isento, é porque nós estamos com uma Selic de quase 15%. Nem o Tesouro Nacional está conseguindo concorrer com esses títulos privados”, disse. Haddad.
EMENDAS – Os líderes do Governo no Congresso se reuniram, ontem, com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para amenizar o ofício enviado pelo ministro Flávio Dino, do STF, que pediu explicações sobre R$ 8,5 bilhões em emendas. A reunião se deu na Presidência do Senado e contou com a presença dos senadores Jaques Wagner (PT-BA), líder do Governo na Casa Alta, e Randolfe Rodrigues (PT-AP), líder do Governo no Congresso.
Perguntar não ofende: Até quando Haddad vai resistir a tamanho isolamento no Governo?
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