Do outro lado, Bolsonaro crescia com um discurso conservador nos costumes, atraindo a massa evangélica. Falava em liberdade econômica com independência do Banco Central, seduzindo parte do mercado financeiro (Faria Lima) e o crescente movimento de influência do agronegócio brasileiro na política.
A campanha de múltiplos candidatos se desenrolava ainda sem um favorito. O escolhido de Lula, pouco a pouco, crescia pela forte ligação midiática com o fenômeno eleitoral que Lula representava.
Foi então que veio a fatídica facada que atingiu Bolsonaro de forma quase fatal, para muitos, um milagre ele ter sobrevivido àquela lesão. A verdade é que aquela facada atingiu Bolsonaro, mas acabou matando politicamente seus adversários. Haddad, mesmo indo para o segundo turno, carregava a imagem da derrota municipal para a reeleição em São Paulo e o sentimento de reprovação da sua gestão municipal.
O palco dos debates, onde ele poderia se destacar por sua sólida formação intelectual, desmoronou com a facada. Bolsonaro virou Messias, Jair Messias Bolsonaro, e o resto, todos sabemos.
O Giro da Roda Continua.
A roda gira, Bolsonaro é eleito, imprime seu estilo, mas não esquece dos programas sociais: amplia o Bolsa Família e derrama dinheiro na epidemia de COVID para estados e municípios, tentando mitigar os efeitos econômicos da pandemia. O governo parecia agir corretamente, mas o presidente, de forma inexplicável para mim, agia contra a orientação de sua própria gestão.
O Ministério da Saúde orientava isolamento social e uso de máscara, seguindo os ditames epidemiológicos que, por sinal, foi adotada em todo o mundo. Bolsonaro se recusava a usar máscara e falava contra o isolamento.
O governo federal comprava vacinas e, em parceria com estados e municípios, promovia a vacinação em massa, como deve e sempre foi feito no combate a epidemias virais. Bolsonaro, pessoalmente, posicionava-se contra a vacina, fazia piada com ela e ava a defender o uso da famosa cloroquina, mesmo sem nenhuma evidência científica, apenas baseado em opiniões médicas isoladas e experiências pessoais sem estudos sérios de comprovação. Ainda fazia piada com os mortos, ao dizer que não era coveiro, atingindo o coração de muitos que perderam entes queridos e de quem nem puderam se despedir pelas restrições estabelecidas nos sepultamentos.
Nesse meio tempo, o fenômeno Lula vê a roda girar: sai como herói nacional da cadeia e entra na disputa. Os dois fenômenos eleitorais do momento travam um segundo turno com disputa cabeça a cabeça. Lula, que ressurge das cinzas, contra Bolsonaro que, mesmo desgastado pelas “trapalhadas” não feitas pelo governo, mas ditas por ele, tem a máquina ao seu lado.
A população dividida assiste, no final da corrida, Roberto Jefferson, aliado de Bolsonaro, de maneira tresloucada, atirar em agentes da Polícia Federal e a sua grande amiga e aliada política, Zambelli, correndo com um revólver em punho atrás de um adversário político. O forte discurso de Bolsonaro em defesa do porte de armas pela população civil foi logo atrelado a esses episódios. Ao que tudo indica, se uma faca o levou à presidência, o rifle de Roberto Jefferson e a pistola de Zambelli o tiram por 1 ponto percentual da cadeira de presidente.
A roda gira e a história se repete, mudando os personagens de lugar. Lula, agora sentado na cadeira, já não tem o discurso do vitimismo e já carrega o peso do desgaste de um país que tem o sentimento de que a economia não traz os ganhos que os governos Lula 1 e Lula 2 trouxeram. Bolsonaro, por sua vez, enfrenta sérios problemas na justiça, estando inelegível e com reais chances de parar na cadeia. Ainda tenta resistir em escolher um sucessor e acaba criando uma espécie de freio aos demais postulantes que sonham com seu apoio. As últimas pesquisas e os recentes movimentos do Judiciário no processo do golpe podem fazer a ficha cair e, finalmente, Bolsonaro decidir trocar o sonho presidencial pelo perdão presidencial.
*Ex-prefeito de Petrolina
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