O futuro presidente do PSB elencou o crescimento da população idosa, o aumento do número de mulheres que são chefes de família, as novas relações de trabalho e um país que tem a fé cristã pulverizada, mas vê alguns segmentos confundirem religião com atividade política, como exemplos de realidades ressignificadas que desafiam o campo progressista. A partir disso, João Campos defendeu que, “num momento em que o ruído substitui o diálogo e em que o ódio tenta calar a diferença, nós temos que saber conviver com a divergência e buscar a convergência naquilo que nos cabe”.

“Sem idealizações imutáveis, teremos que conversar com esse Brasil. O PSB será um partido que vai estar pronto e preparado para representar o sentimento de um Brasil diferente que a gente sente nas ruas. Vamos mostrar que o nosso campo sabe fazer, que o campo progressista vai crescer e que um partido da centro-esquerda brasileira vai poder ser uma casa para acolher aqueles que estão desesperançosos com a política em nosso país”, afirmou.

Por fim, João Campos pediu a confiança dos militantes e ressaltou que pretende fazer da sua condução partidária um processo coletivo. “Nada na minha vida eu construí sozinho. Ao mesmo tempo em que quero liderar, quero ser liderado pela nossa militância. Tenho noção dessa responsabilidade e sei que ela se mistura com nossa história”, complementou, lembrando que seu bisavô, Miguel Arraes, e seu pai, Eduardo Campos, também estiveram à frente do PSB.

REPRESENTATIVIDADE – O vice-presidente Geraldo Alckmin exaltou a representatividade do PSB em um projeto nacional de desenvolvimento e se prontificou a ajudar João Campos no fortalecimento do partido. “Não fui companheiro no PSB nem do [Antônio] Houaiss, nem do Jamil Haddad, nem do Miguel Arraes, mas me sinto em casa. Dá impressão que sou do PSB há décadas, tal a maneira carinhosa com que fui recebido. Quero ajudar, João Campos. Conte com nosso empenho para ajudá-lo na organização de um grande partido. O PSB tem história, tem futuro e sempre esteve do lado certo da história”, afirmou.

Já o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, enfatizou que João Campos assumirá o partido em um momento de reforço dos ideais do campo progressista frente à ameaça de projetos antidemocráticos no mundo. “Não se envergonhem das nossas ideias, porque elas são as melhores, e estão prosperando as piores. Elas são as mais generosas, as mais solidárias, pregam a igualdade de oportunidades para todos e um projeto nacional de desenvolvimento. Não temos outro caminho a não ser nos empenhar na defesa das nossas ideias de desenvolvimento, justiça social, prosperidade e educação de qualidade”, discursou.

Também presente no evento, o presidente nacional do PT, senador Humberto Costa, parabenizou o PSB e referiu-se a João Campos como “uma liderança que já se projeta não apenas em Pernambuco, mas em todo o país”. “O PSB de Miguel Arraes, a quem eu conheci, de quem fui companheiro. O PSB de Eduardo Campos, a quem eu conheci, de quem fui companheiro e aliado em vários momentos. E vemos o surgimento de uma liderança importante, o prefeito do Recife, João Campos, que é, sem dúvida, alguém que representa uma liderança habilidosa, faz uma grande gestão à frente da Prefeitura do Recife, é um competente, reconhecido por sua capacidade de diálogo e por colocar o povo no centro das decisões”, avaliou.

PROGRAMAÇÃO – O início oficial do congresso foi marcado por um ato político-cultural em homenagem ao pianista Arthur Moreira Lima e ao ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela. Pela manhã, já haviam sido declaradas abertas as plenárias que elegeram os representantes das comissões executivas dos segmentos do partido – Mulher, Juventude, Negritude, LGBT, Movimento Sindical, Movimento Popular e Pessoa com Deficiência. Neste sábado (31), estão previstos debates sobre as eleições de 2026, economia verde, tecnologias digitais e políticas de comunicação, entre outros temas.

Já amanhã haverá a plenária principal, durante a qual serão eleitos o presidente nacional e os demais membros da comissão executiva e do diretório nacional do PSB. Pernambuco está representado no congresso por cerca de 70 delegados, entre deputados, prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e militantes sem cargos eletivos, todos com direito a voto.

João Campos diz que a rede social é instrumento indispensável da política hoje e reconhece a atuação da direita nessa área. O engajamento que o deputado do partido de Jair Bolsonaro consegue nas redes é “mistura de muita coisa”.

“Tem o senso de oportunidade, dizer a coisa precisa – não vou dizer que é a coisa certa –, numa hora devida”, disse à Folha. “Tem instrumentalização de patrocínio para startar o vídeo até ele pegar na veia, e tem uma rede orgânica muito grande que a direita tem”, afirmou.

Nikolas já era conhecido pela direita por sua atuação nas redes sociais, mas furou a bolha quando, em janeiro, despontou um vídeo seu criticando novas regras da Receita Federal que ampliavam o serviço de monitoramento sobre movimentações financeiras do Pix. Hoje, só no X (ex-Twitter), a publicação teve 8,7 milhões de visualizações.

O vídeo, que tem algumas imprecisões, impulsionou a pressão contra a medida e fez o governo recuar. Nele, o parlamentar dizia que o Pix não seria taxado com a norma da Receita, mas diz “não duvidar” que o sistema de pagamento possa ser tributado no futuro.

João Campos reconhece que um dos elementos para Nikolas viralizar é “a rede orgânica muito grande que a direita tem”. Mas também aponta para uma parte inorgânica, que é utilizar patrocínio para fazer o vídeo “startar até pegar na veia”.

“E tem uma parte aí que é de você colocar informações que não necessariamente condizem com a verdade. Não estou falando especificamente de determinado vídeo de pessoa, mas você pega um assunto amplo, aí você fala de dez assuntos, bota seis verdades e quatro invenções no meio”, disse.

“E isso não é feito por acaso, isso é feito para engajar, porque muitas vezes o que engaja é a mentira. Então é difícil, é difícil. Mas há de se reconhecer que a direita tem um senso de oportunidade importante”, completou.

Novo presidente nacional do PSB, João Campos ganhou destaque no seu campo político com comunicação nas redes sociais, virou conselheiro do governo Lula (PT) nesse setor e até indicou integrantes da sua equipe de Recife para a Secom.

“Não tem uma fórmula mágica. Na minha opinião, a premissa número um é que tem que ser algo verdadeiro, autêntico. Então, não queira ser como outra pessoa na rede social. Esse é o primeiro erro. Se você quiser imitar alguém na rede social, vai ficar possivelmente uma coisa fake, não vai parecer verdadeiro”, disse.

A rede social é hoje um instrumento necessário da política, de acordo com o prefeito. Mas defende que é preciso fazer melhorias no uso, cada vez mais violento, delas, sobretudo na política.

“A velocidade do Estado não acompanha a velocidade do digital. É claro que isso tem que ter adequação. Do jeito que está hoje, você parte de uma premissa que tem um bom senso, tanto de quem usa, quanto das empresas. E muitas vezes falta bom senso. Tem que ter alguma construção. Talvez até mudar o nome, não ser mais uma regulamentação das redes sociais”, afirmou.